O mês de agosto, na tradição de nossa Igreja do Brasil, tornou-se um “mês vocacional”, um tempo em que todos somos convidados a refletir sobre a nossa vocação cristã em seus desdobramentos diversos na vida diária. Nunca é demais relembrar as palavras ungidas e fortes do Documento de Aparecida, ao abordar o tema da missão da Igreja:
“O que nos define não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que devemos empreender, mas, acima de tudo, o amor recebido do Pai graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo. (...) Aqui está o desafio fundamental que afrontamos: mostrar a capacidade da Igreja para promover e formar discípulos e missionários que respondam à vocação recebida e comuniquem, por toda parte, transbordando de alegria e gratidão, o dom do encontro com Jesus Cristo!” (Doc. Ap. 14).
Percebemos, nas entrelinhas deste texto forte, toda uma iluminação orientadora para a abordagem da vocação cristã nos seus diversos aspectos: vocação a um encontro com Jesus Cristo! É a explicitação, digamos assim, da vocação universal à santidade, tão bem exposta no início da Constituição Apostólica “Lumen Gentium”, do Concílio Vaticano II. Ou seja, é o fundamento de tudo o que se deve propor e apresentar como caminho e vida a todas as dimensões da vocação cristã.
Toda a catequese infantil e de iniciação cristã deve estar impregnada desta vibração pelo encontro com o Senhor. A Pastoral da Juventude não deve vacilar e muito menos se intimidar ao propor aos jovens um encontro radical com o Senhor, que vai levá-los a reorganizar seus valores, suas metas, seu estilo de vida, dando prioridade à grande libertação que o Senhor lhes oferece através dos valores da castidade, da superação dos horizontes mesquinhos do mundo materialista e hedonista, a fim de que mergulhem com alegria no universo do verdadeiro amor.
Toda a realidade familiar precisa ser iluminada por esta busca de um encontro profundo, vibrante com o Senhor Jesus, que liberta o casal de uma vivência meramente pautada pela busca dos bens materiais e dos prazeres da vida, para se darem conta da maravilhosa graça recebida de Deus que é o Amor que os une como esposos, que os leva a sentirem a alegria de se encontrarem unidos no dia a dia, e a alegria de se encantarem um com o outro na construção da vida.
Esta alegria os levará a vivenciar intensamente o amor da convivência familiar, com os filhos, netos, demais parentes. É toda uma nova maneira de ser que brota deste encontro da Família com o Senhor Jesus, pois Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Igualmente a perspectiva deste encontro com o Cristo que chama e unge deve nortear profundamente o sentido da Vida Consagrada e Sacerdotal. Nesta dimensão amorosa do “estar com o Senhor”, o consagrado, a religiosa, o sacerdote deve encontrar a força espiritual para assumir o “definitivo” da sua consagração, da sua ordenação, que os torna sinais visíveis da Esperança que não decepciona, no meio deste nosso mundo cada vez mais fechado a Deus e cada dia mais decompondo-se na degradação dos valores da dignidade do homem e da mulher, perdido entre pequenas esperanças, frustrantes porque vazias.
A grandeza desta vocação cristã, em seus diversos aspectos, está em se abrir o coração ao Senhor, em desenvolver uma intimidade crescente com Ele na oração, em priorizar, com audácia, o que devemos ser no meio do mundo, com Ele, mais do que o que devemos fazer neste mesmo mundo.
Que a intercessão da Santa Mãe de Deus, cuja gloriosa Assunção celebramos neste mês, obtenha-nos de Deus a graça de sermos sempre mais apaixonados, até a raiz do nosso ser, por Aquele sem o qual nada tem sentido na vida: Jesus Cristo, a quem toda honra, louvor e glória para sempre.



+ D. Fr. Alano Maria Pena OP
Arcebispo Metropolitano de Niterói

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